sábado, 29 de janeiro de 2011

 
PODIA DIZER-TE

Podia dizer-te como te vejo,
mas aquilo que os meus olhos vêem é pouco para dizer-te.
Vejo-te, é certo,
vejo-te como outros captaram nos olhos aquilo que decerto os meus também vêem nas vistas.
Ver é uma coisa para quem tem vistas
e não apenas para quem tem olhos.
E eu tenho vistas.
Às vezes são ouvidos, as vistas,
outras são mãos, ou esse odor que o meu corpo respira quando passas.
Ver-te, ver-te, ver-te...
só de te ver em verde meu coração se transformaria
ou se tu fosses uma rosa, uma rosa vermelha como o sangue
que se agarra aos espinhos.
Mas a vida é outra coisa, a vida é para quem tem olhos
e eu só tenho estas vistas.
Estas vistas cansadas dos escolhos dos abismos dos outros.
Vistas cansadas de te seguir na corrente onde mergulhaste.
Vistas exaustas por ter ficado ali, parado, a ver
e não a olhar.
Para onde,
para que mar?
Estou deitado na relva do jardim.
Ainda florescem rosas
e eu descanso a vista.

José Miguel de Oliveira

domingo, 23 de janeiro de 2011

ME ENCANTE

Me encante com seus olhos...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar...

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar...

Pablo Neruda

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

 
IV

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que é loiro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de Princesas e de Fadas;
Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;
Digo os anseios, os sonhos, os desejos
De onde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!
E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

Florbela Espanca

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011


PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES


Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Geraldo Vandré
Advogado, Cantor e Compositor

domingo, 9 de janeiro de 2011

 
NO JARDIM EM PENUMBRA

Na penumbra em que jaz o jardim silencioso
A tarde triste vai morrendo ... desfalece...
Sobre a pedra de um banco um vulto doloroso
Vem sentar-se, isolado, e como que se esquece.

Deve ser um secreto, um delicado gozo
Permanecer assim, na hora em que a noite desce,
Anônimo, na paz do jardim silencioso,
Numa imobilidade extática de prece.

Em lugar tão propício à doçura das almas
ele vem meditar muitas vezes, sozinho,
No mesmo banco, sob a carícia as palmas.

E uma só vez o vi chorar, um choro brando...
Fiquei a ouvir... Caíra a noite, de mansinho...
Uma voz de menina ao longe ia cantando.


Rui Ribeiro Couto

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011



DE PASSAGEM

Não fiques triste: já vem vindo a noite
quando veremos sobre a terra esbranquiçada
a Lua fria, como que a rir-se por dentro,
e então descansaremos de mãos dadas.

Não fiques triste: já vem vindo o tempo
quando teremos sossego. Nossas cruzinhas estão
erguidas juntas na margem clara da vida,
chove e neva,
e os ventos vem e vão.


Hermann Hesse
In: Andares

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

 
SOPRA-ME

Sopra-me
que ao de onde procedo
haverei com levezas
de, então, retornar.
Com o calor de teu sopro,
de teu insuflar,
meus versos,
como pelúcias e pétalas,
no regaço das tardes,
no jardim das estrelas,
haverão assim de cair,
haverão de pousar.

Fernando Campanella

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Ninguem é tão pobre espiritualmente que não possa, pelo menos uma vez ao dia, olhar para o céu e ter uma idéia viva e boa, elevada e construtiva. O prisioneiro que, no caminho para o trabalho, repete, mentalmente, um verso, estimulante, cantarola uma bela melodia, pode estar mais intimamente de posse desses bens consoladores que muitas pessoas animadas, que já há muito se cansaram de suas belezas e doces encantos.
Você , que está triste e longe dos seus, leia, sempre que puder, um belo provérbio, uma poesia. Lembre-se de uma bela música, uma bela paisagem, de um momento puro e feliz de sua vida! E, se você for sincero com seus ideais, verá o milagre acontecer, verá que as suas horas serão mais luminosas, o seu futuro mais confortador e sua vida mais terna e afável.

Hermann Hesse,
Excerto do livro "A arte dos ociosos", editora Record

sábado, 1 de janeiro de 2011

 
MOMENTOS

Momentos de nostalgia
Que nos entristecem.

Momentos de saudade
Que nos magoam.

Momentos de alegria
Que embalam a nossa alma.

Ao longe,a musica que toca.

No CÉU,
A lua e sinfonias siderais.

Nas moradas, as janelas iluminadas.

Nos jardins as flores exalam o seu
perfume:
Rosas,cravos e açucenas.

E em cada canto vejo um vulto de
mulher...


Olympiades Guimarães Corrêa
Em Neblina do Tempo -1.996