SONETO DE UMA CRIANÇA
Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o seu brilho
de vaidoso intelectual
vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
Talvez bastem para encantar?
Imprevistas, fartas mesadas,
Louvores, prêmios, complacências,
Milhões de coisas desejadas
concedidas sem reticências?
Liberdade alheia a limites,
perdão de erros sem julgamento
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?
E se depois de tanto mimo
que o fascinava, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
forma vazia, amargamente.
Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
Uma centelha de confiança?
Eis, acode meu coração
E oferece, como uma flor,
A doçura desta lição:
dar a meu filho o meu amor.
Pois o amor resgata a pobreza,
Vence o tédio, ilumina o dia
E implanta em nossa natureza
A imperecível alegria.
Carlos Drummond de Andrade
Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o seu brilho
de vaidoso intelectual
vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
Talvez bastem para encantar?
Imprevistas, fartas mesadas,
Louvores, prêmios, complacências,
Milhões de coisas desejadas
concedidas sem reticências?
Liberdade alheia a limites,
perdão de erros sem julgamento
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?
E se depois de tanto mimo
que o fascinava, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
forma vazia, amargamente.
Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
Uma centelha de confiança?
Eis, acode meu coração
E oferece, como uma flor,
A doçura desta lição:
dar a meu filho o meu amor.
Pois o amor resgata a pobreza,
Vence o tédio, ilumina o dia
E implanta em nossa natureza
A imperecível alegria.
Carlos Drummond de Andrade
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