segunda-feira, 4 de outubro de 2010




 VIBRA O PASSADO EM TUDO O QUE PALPITA... 


Vibra o passado em tudo o que palpita
qual dança em coração de bailarino
ao regressar já mudo o violino
e há nuvens sobre o bosque em que transita

À paz dos seres a morte em seu contínuo
crescer em ramos de coral incita
a bem da noite negra e infinita
ser um raro instrumento é seu destino:

O ceptro dos eleitos que não cansam
o corpo que este tempo já não quebra
é como a cruz que os astros quando avançam

sobre o sul traçam por medida e regra
Os deuses têm-no em suas mãos cativo
risível é quem eles mandam vivo.

 
Walter Benjamin, in "Sonetos" 
Alemanha 1892-1940
 Tradução de Vasco Graça Moura

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