quarta-feira, 10 de novembro de 2010



A UMA DAMA MUITO OBRIGADO

Enquanto, suave, a primavera passa,
 teu decote é zeloso, na abertura, 
mas ao verão ardente, sem censura,
 ele entremostra toda a tua graça!
 
Depois o outono chega e tudo embaça...
 Então, vai se fechando, te enclausura,
 e ao vir o duro inverno, com usura
 ciumento, ao teu pescoço ele se enlaça.
 
Renego este tempinho - madrilenho 
de longo inverno e de tão longos xales... 
(Sou ilhéu! meu protesto não contenho!)
 
Mas socorrer-me está em tua mão:
mesmo em novembro, espero, me regales
 com o presente de um dia de verão!


TOMÁS DE IRIARTE 
1750-1791
Trad. de J. G. de Araújo Jorge

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