sábado, 21 de junho de 2014




In Memoria

Esteja perto de mim quando a minha luz diminuir,
Quando o sangue se arrastar, e alfinetar os nervos
E formigamento; e o coração doente,
E todas as engrenagens pararem.

Esteja perto de mim, quando o quadro sensual
É coberto com dores que conquistam a confiança;
E tempo, uma dispersão de poeira,
E a vida, uma chama ligeira.

Esteja perto de mim quando minha fé secar,
E os homens, que as moscas da última primavera,
Que depositam seus ovos, e partem a cantar
E tecer suas células mesquinhas e morrer.

Esteja perto de mim quando eu desaparecer,
Para apontar o prazo de conflitos humanos,
E à beira do baixo escuro da vida
O crepúsculo do dia eterno.

Lord Alfred Tennyson

 


segunda-feira, 2 de junho de 2014



Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.


Seu eu te pudesse dizer
o quanto te amo
Te daria grande prazer
e viverias nesse encanto.


Mas amar é meu segredo
O que nunca te direi
Pois sinto muito medo
E sei que te perderei.


Se soubesse compreender
O tamanho desse amor
Tu terias que entender
Que so quero seu calor.


Assim sigo meu caminhar
Te amando sem lei
E sempre a me perguntar
Aquilo que nem eu sei.

Fernando Pessoa

terça-feira, 29 de abril de 2014




Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ele dormia!
Era a virgem do mar, na espuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonho se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Manuel Antônio Álvares de Azevedo 
(São Paulo, 12 de setembro de 1831-  Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852)