terça-feira, 12 de janeiro de 2010


CANÇÃO DA SIMPLICIDADE

Esta é a voz da Simplicidade:
não tem nada de artificial.
Ela é bem como a mocidade:
melancólica e natural.

E é bem triste, porque é sincera.
Por que não? Tanta gente existe
que, num dia de primavera,
sem saber porque, fica triste.

O que a gente sabe do mundo
dá vontade só de morrer;
mas o que não sabe é,no fundo,
o que faz a gente viver.

Esta é a voz bem doce e prudente
que se, às vezes, nesta ou naquela
folha chora, é para que a gente
ache a vida melhor do que ela.
Ó crianças, vesti, na aurora,
as roupinhas dominicais!
Colhei flores, que ides agora
ouvir o órgão entre os vitrais!

Ó velhinhas, tomai o chale
e os rosários! E que,o sol posto,
este canto às almas vos fale
e vos tire as rugas do rosto!

Lindos rostos, rostos sem vincos,
persignai-vos com devoção!
Ó mulheres, tirai os brincos
para ouvirdes bem a canção!

A canção bem moça, bem doce
e bem simples... Ó mocidade,
que serias tu se não fosse
a canção da Simplicidade?


Guilherme de Almeida
- A primeira Mágoa - In Toda a Poesia


Nenhum comentário: