domingo, 4 de novembro de 2012


 ULYSSES

No porto, olhai da nave a panda vela:
E além os negros mares. Meus marinheiros,
Meus sócios nas ideias e trabalhos,
Que sempre alegremente recebestes
Trovões e Sóis, e que expusestes livres
O peito e a frente, estamos velhos todos:
Ora a velhice tem seu brio honrado;
A morte acaba tudo; mas, no fim,
Algo de nobre poderá ser feito,
Digno dos homens que enfrentaram Deuses.
As luzes já se acenderam pelas serras:
O longo dia esvai-se: e a lenta lua
Sobe: e as profundas multivárias uivam.
Ainda não é tarde, meus amigos,
Para buscarmos um mais novo mundo.

Façamo-nos ao mar, ao remo assentes,
Arai as fundas vagas. Meu propósito
É ir além do Poente e dos caminhos
Dos astros do Ocidente, até que eu morra.
Provável é que abismos nos engulam:
Ou que nos surjam as Afortunadas,
E o grande Aquiles vejamos que estimamos.
Muito se perde, e muito fica; embora
Não tenhamos a força que, outros tempos,
Tudo movia – quanto somos, somos:
Uma igual têmpera do peito heroico,
Ao tempo e fado frágil, mas bem forte
Para buscar, achar, e não perder.

 

Alfred Lord Tennyson

Trad. Jorge de Sena

Nenhum comentário: