domingo, 18 de novembro de 2012



DOR

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar

e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos

uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,

daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.

Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

Do teu coração me diz adeus uma criança.

E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


SE

Se eu pudesse, simplesmente, abrir uma porta...

...e sair... se fosse simples assim...

Se eu pudesse, simplesmente, dizer adeus...

...e partir...uma mensagem final enviar...

Se fosse simples assim...seria este o momento...

...adeus...adeus...queixo erguido,sorriso nos lábios...

...adeus...adeus...missão cumprida...

Se tão facilmente pudesse me desligar...

...dos que amei...dos que me fiz amar...

Se eu não tivesse um filho, um gato, um cão...

...que eu não ensinei a viver sem mim...

Se eu tivesse sido menos paciente e amorosa...

...tivesse desligado os fios do amor, da piedade...

Se tivesse sido mais "realista"... "pés no chão"...

...e pensasse apenas em mim, hoje eu seria livre...

...e podia achar essa porta...e abri-la...

...e partir feliz...consciência leve...nenhuma obrigação...

...e pudesse procurar a felicidade...essa tal felicidade...

...que busquei em torno de mim... sem perceber...

...que ela só pode existir... dentro de mim...

...aqui... por de trás desta porta...
 
 
Maristel Dias dos Santos
 
http://www.minhapoeta.com/
 

domingo, 4 de novembro de 2012


 ULYSSES

No porto, olhai da nave a panda vela:
E além os negros mares. Meus marinheiros,
Meus sócios nas ideias e trabalhos,
Que sempre alegremente recebestes
Trovões e Sóis, e que expusestes livres
O peito e a frente, estamos velhos todos:
Ora a velhice tem seu brio honrado;
A morte acaba tudo; mas, no fim,
Algo de nobre poderá ser feito,
Digno dos homens que enfrentaram Deuses.
As luzes já se acenderam pelas serras:
O longo dia esvai-se: e a lenta lua
Sobe: e as profundas multivárias uivam.
Ainda não é tarde, meus amigos,
Para buscarmos um mais novo mundo.

Façamo-nos ao mar, ao remo assentes,
Arai as fundas vagas. Meu propósito
É ir além do Poente e dos caminhos
Dos astros do Ocidente, até que eu morra.
Provável é que abismos nos engulam:
Ou que nos surjam as Afortunadas,
E o grande Aquiles vejamos que estimamos.
Muito se perde, e muito fica; embora
Não tenhamos a força que, outros tempos,
Tudo movia – quanto somos, somos:
Uma igual têmpera do peito heroico,
Ao tempo e fado frágil, mas bem forte
Para buscar, achar, e não perder.

 

Alfred Lord Tennyson

Trad. Jorge de Sena